O horário de verão começou à meia-noite de sábado para domingo (16-17/10) e os relógios deverão ser adiantados em uma hora. Se para algumas pessoas isso significa apenas mais uma hora de dia claro, para outras é sinônimo de sonolência e mau humor. Isso ocorre porque a mudança não ajusta somente os relógios que temos à nossa volta, mas altera também nosso relógio biológico. A pesquisadora do Laboratório de Educação em Ambiente e Saúde do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) Lúcia Rotenberg explica que o nosso corpo apresenta diversos ritmos biológicos, ou seja, fenômenos que se expressam de maneira periódica, indo desde a secreção de um hormônio até um comportamento, como o sono e a vigília. Estes ritmos são controlados por uma estrutura do sistema nervoso (o núcleo supraquiasmático) localizada no hipotálamo anterior, região do cérebro que atua como principal centro integrador das atividades dos órgãos viscerais. Esta estrutura é denominada “relógio biológico”, uma vez que é responsável pela temporização das funções biológicas.
Características herdadas geneticamente e informações cíclicas do ambiente interferem no nosso relógio biológico. Em condições normais, está adaptado ao ambiente externo. No entanto, quando o ambiente se modifica – como no horário de verão –, o organismo também precisa se ajustar. É o mesmo fenômeno que ocorre quando cruzamos fusos horários. “Os horários que regulam nossas vidas, como parte do ambiente social onde estamos inseridos, podem interferir em nosso relógio biológico”, sintetiza.
Se todos têm um relógio biológico e ritmos biológicos funcionando de forma semelhante (somos uma espécie diurna), por que a mudança para o horário de verão afeta algumas pessoas e outras não? A cronobiologia dá a resposta. “A forma como cada indivíduo vivencia as alterações de horário depende da característica genética de cada um, pois as pessoas apresentam cronotipos diferentes. Algumas pessoas são do tipo matutino, com maior predisposição genética para realizar suas tarefas bem cedo. Essas pessoas têm o relógio biológico adiantado e, por isso, tendem a dormir cedo e levantar cedo. Outras são vespertinas, ou seja, tendem a dormir tarde e acordam mais tarde”, a pesquisadora descreve. De acordo com a especialista, a tendência matutina ou vespertina também se expressa em outros ritmos biológicos, como o ciclo de temperatura corporal. “O pico de temperatura do corpo é atingido mais cedo pelos matutinos do que nos vespertinos”, destaca.
A pesquisadora explica que as pessoas matutinas costumam sofrer mais com a alteração do horário. Há indícios de que pessoas que tendem a dormir pouco (chamadas de pequenos dormidores) também apresentariam maior dificuldade em relação à implantação do horário de verão. “Enquanto o organismo não se ajusta completamente ao novo horário, as pessoas se sentem mais irritadas e mal-humoradas, com sensação de cansaço e sono durante o dia”, ressalta. “No entanto, esse desconforto fica restrito aos primeiros dias e a queixa costuma ir embora em até uma semana depois da implantação do novo horário”, completa, acrescentando que este é um tema ainda pouco investigado.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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