Bandas épicas e mais de 50 mil pessoas por dia no interior de São Paulo. É possível dizer que o SWU, o festival com cara de Woodstock que invadiu Itu, foi um sucesso. Tudo isso se não fosse o fato de a organização ter batido na tecla mais moderna dos nossos tempos: a sustentabilidade. E, se o som foi bom, as questões de sustentabilidade ficaram escondidas atrás das garrafinhas de plástico.
Desde que o nome do festival foi divulgado, o esforço era afirmar que não se tratava de um simples evento de música, mas sim de um gigantesco “movimento de conscientização em prol da sustentabilidade”. E ele ainda seria o pioneiro no Brasil, com possibilidades de se tornar um marco verde no país. Mas o que pudemos extrair e ver do festival é bem claro: o Brasil adicionou em seu dicionário o termo greenwashing, a tática publicitária para deixar as empresas mais verdes e boazinhas para nós. Só.
O pessoal da Revista Sustentabilidade levantou alguns pontos que mostram a contradição que um megaevento entupido de dinheiro e negócios tem com uma proposta sustentável real: o estacionamento custava 100 reais, com o argumento de que o ideal era deixar o carro em casa e ir de ônibus. Ao mesmo tempo, não havia estacionamento de bicicleta para quem morava na região, e a frota de ônibus foi muito aquém do necessário – no primeiro dia, pessoas enfrentaram mais de 4 horas de fila para voltarem a São Paulo. Nenhum tipo de transporte fazendo o trajeto entre a rodoviária de Itu e o evento estava disponível também.
Se um dos lemas do SWU era “a primeira coisa que você pode fazer para salvar o planeta é fazer alguma coisa”, dando a entender que pequenos gestos jáfazem a diferença, é contraditório constatar que latas de cerveja eram vendidas por 7 reais acompanhadas de um copo de plástico, ou que garrafas de plástico de água eram vendidas, sem nenhum tipo de distribuição gratuita. Todo o lixo do evento foi reciclado e quase 1 milhão de latinhas foram recolhidas, mas isso já é comum em trocentos festivais e eventos de todo porte. No fim das contas, as tais ações verdes seguiram o mesmo padrão dos últimos anos: muita publicidade para deixar empresas com cara de cool e bondosas ao mesmo tempo, mas poucas mudanças realmente efetivas no processo real, que é o que interessa. “Foi um Woodstock sem causa”, disse o jornal Gazeta do Povo.
Musicalmente falando, o SWU foi um evento sensacional. Festivais de grande porte como o Coachella, na Califórnia ou o Roskilde, na Dinamarca, sempre foram o sonho dos brasileiros que gostam de música de forma quase doentia. É ótimo imaginar que bandas como Pixies, Queens of the Stone Age e Rage Against the Machine puderam se encontrar num evento com várias outras bandas, para vários públicos diferentes, em terra brasileira. Temos mais é que comemorar o alto público presente – as chances de mais eventos desse porte aparecerem por aqui nos próximos anos é alta. Mas, por favor: da próxima vez, ou falem apenas de música, ou falem de sustentabilidade de forma séria. [Revista Sustentabilidade e Gazeta do Povo]
Crédito da imagem: Flavio Moraes/G1. Escrito por Leo Martins no Gizmodo
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